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Funcionário afirma que local não era seguro
Os advogados de Rafael
tiraram um foto dele
quando estava internado. (Foto: Arquivo Pessoal) |
O
jovem que perdeu um braço despedaçado em um triturador de massas na
fábrica da Produtos Alimentícios Cadore S/A, em São João de Meriti,
na Baixada Fluminense, afirmou, em depoimento a policiais da 64ª DP (São
João de Meriti), que, apesar de ter sido contratado como “auxiliar de
produção”, desde que entrou na empresa exerce a função de “operador de
máquina”.
O acidente ocorreu na manhã de segunda-feira (17). “Na carteira de
trabalho dele está o cargo de ‘auxiliar de produção’. Isso caracteriza
um desvio de função”, afirmou o advogado Geraldo Flávio Campos Dias, que
defende Rafael.
“Eu não sou operador de máquina. Não me deram treinamento nenhum”,
disse Rafael Costa de Souza, de 25 anos, em entrevista ao G1.
“Por várias vezes eu pedi para trocar de setor”, acrescentou o jovem,
que trabalhava há sete meses na fábrica.
A diretora-administrativa da Cadore, Claudia Scofano, explicou que não
há operadores de máquina trabalhando no triturador de massas, mas
somente auxiliares de produção, já que, segundo ela, o triturador "não é
uma máquina para ser operada e não precisa de parâmetros para
funcionar”, pois só tem o botão liga/desliga.
“Essa função é exercida por auxiliares de produção porque não precisa
ter expertise de operação de máquina. Basicamente, o trabalho é
abastecer o equipamento”, explicou Claudia Scofano.
Cláudia Scofano afirmou que todas os funcionários da Cadore são
treinados para trabalhar com as máquinas. “Tenho que verificar com o
encarregado do setor se o Rafael não foi treinado”, disse. Ainda de
acordo com a diretora-administrativa, o que ocorreu foi um acidente de
trabalho e que, segundo o responsável pela área onde Rafael trabalhava, o
funcionário teria agido com imprudência.
Rafael afirma no depoimento que, “para ter acesso ao triturador onde
tinha que jogar o macarrão, tinha que subir uma escada de dois degraus,
que ficava solta, deslizando no chão liso”. O jovem contou ao G1
que já tinha jogado um saco de macarrão dentro do triturador, e que,
quando jogava o segundo saco, a escada escorregou. Então, ele caiu e
sentiu a palma da mão ser puxada pela máquina.
“O triturador me puxava. Eu gritava muito. A minha cabeça chegou a
bater na ferragem do triturador, e ficou marcada. A máquina quase
estoura minha cabeça”, conta Rafael. “Eu fiquei forçando o peso para
fora, para o triturador não me puxar e moer o meu corpo. Eu gritava e
pedia ajuda pelo amor de Deus, mas ninguém escutava, por causa do
barulho da máquina”, complementa.
A diretora-administrativa da Cadore disse que precisa verificar o que
ocorreu na hora do acidente. “Eu não conheço o posicionamento da
escada”, afirmou. De acordo com Cláudia Scofano, a fábrica não dispõe de
ambulâncias para atendimento e remoção de urgência.
Funcionário conta que ficou com braço preso por dez minutos
No depoimento à polícia, Rafael conta que só foi socorrido cerca de dez
minutos depois que o braço foi sugado pelo triturador de massas, por um
eletricista da Cadore. “Ele foi socorrido por acaso, pois o eletricista
tinha ido verificar um problema na máquina que tinha sido avisado pelo
próprio Rafael”, diz o advogado Cláudio da Fonseca Vieira, que também
defende o funcionário.
Ainda no depoimento, Rafael relata que operava o triturador “sem os
equipamentos de segurança necessários”, e que “já havia reclamado com
seus superiores sobre a falta de máscaras e óculos de proteção, mas a
empresa alegava que o material estava em falta”.
“O certo é ter um operador de máquina para trabalhar no triturador,
junto com um auxiliar. Se tem alguém do meu lado, podia desligar a
máquina. Eu teria perdido um dedo, ou uma mão, mas perdi meu braço
todo”, conta Rafael.
Apesar de afirmarem que a Cadore está apalavrada em dar assistência a
Rafael, os advogados do funcionário fizeram algumas críticas à empresa.
“Eu acho que a empresa está acanhada na prestação de serviços e no
pós-operatório”, afirmou Campos Dias. “Nós é que levamos o Rafael para
casa quando ele teve alta do hospital. Isso denota uma falta de atenção
da empresa, por não ter providenciado um carro para levá-lo”,
complementou Fonseca Vieira.
O cargo
preenchido na carteira de trabalho de Rafael é de auxiliar de produção. (Foto: Arquivo Pessoal) |
Diretora-administrativa da Cadore diz que empresa está
prestando toda a assistência
Sobre a falta de equipamentos de segurança, Cláudia Scofano afirmou que
não procede a informação dada por Rafael. “O perito da polícia tirou
fotos dos óculos de proteção, que estavam no local do acidente. E as
máscaras estão disponíveis no RH e no Setor de Qualidade, que fica
próximo ao local onde Rafael estava trabalhando”, ressaltou. Sobre o
fato de Rafael estar sozinho no triturador, ela disse que é uma situação
normal. “Isso depende da quantidade do produto. Se for pouco, uma
pessoa só é suficiente para abastecer”, explicou.
A diretora-administrativa informou que a Cadore está prestando toda a
assistência necessária a Rafael e acredita que estão ocorrendo “ruídos
na comunicação”. “Vamos dar uma cesta básica para ele e oferecemos uma
psicóloga da empresa, mas a família está recusando nossa ajuda.
Inclusive, eles não aceitaram um cartão, assinado pelos funcionários,
que enviamos junto com flores”, contou Cláudia Scofano.
“Mandei para a família uma carta com um e-mail, número de fax e cinco
telefones para que não haja dificuldade em passar as receitas e os
medicamentos necessários, que vamos custear. Nós estamos fazendo um
plano de saúde para o Rafael, que pode ser aposentado por invalidez ou
ser recolocado na empresa, após uma preparação específica”, afirmou a
diretora-administrativa. “Todos os traslados dele serão custeado por
nós. Só peço, caso a família precise de locomoção, que avise com 24
horas de antecedência”, acrescentou.
Rafael diz que está sentido muita dor e que sente uma imensa
dificuldade para dormir. “Dói muito, e eu choro às vezes. É difícil sair
de casa. Só dá para utilizar uma mão quando tomo banho, para me
limpar”, conta ele.
Fonte: g1.globo.com
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