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Documentário "Carne, Osso", que será exibido no É Tudo Verdade, mostra o trabalho nos frigoríficos brasileiros

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Dados oficiais revelam que os trabalhadores do setor estão expostos a riscos maiores de acidentes do que os de outras indústrias. Carlos Juliano Barros, um dos diretores do filme, fala sobre o dia a dia chocante apresentado na obra.

repórter brasil  Você trabalharia em um lugar frio, sem janelas, fazendo de 80 a 100 movimentos com as mãos e braços por minuto (o limite considerado seguro é de 35), sem poder conversar com o colega do lado, muitas vezes em pé, durante longas horas? Se uma mosca pousar no seu rosto, você não terá tempo de afastá-la com as mãos: a pressão pela produtividade é grande. 
   
   Você estará exposto a lesões nos ombros, pescoço, pulso, coluna, atrofia dos nervos, cortes profundos, problemas psicológicos e todas as doenças relacionadas ao estresse. Ainda sofrer acidentes que levem a amputações de membros, pela manipulação constante de serras e facas. O documenário Carne, Osso, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros e produzido pela ONG Repórter Brasil, revela essas condições em alguns frigoríficos pelo Brasil. O setor emprega ao todo 750 mil brasileiros.

   
   O filme está na mostra competitiva do festival É Tudo Verdade e vai passar no Rio de Janeiro, nos dias 2 e 3 de abril, e em São Paulo, em 4 e 5. Segundo pesquisa com dados oficiais, um funcionário de frigorífico de bovinos tem três vezes mais chances de sofrer traumatismo de cabeça ou de abdômen do que o empregado de qualquer outro segmento econômico. O risco de quem desossa frango desenvolver tendinite é 743% superior ao de que qualquer outro trabalhador. Além dos problemas físicos, há os psíquicos: o índice de depressão entre os funcionários de frigoríficos de aves é três vezes maior que o da média de toda a população economicamente ativa do Brasil. 

   O filme mostra o drama de ex-funcionária do setor que, aos 35 anos, não conseguia mais abrir as mãos porque seus nervos atrofiaram. Aos 27, uma outra passou a ter artrose, uma "doença de velho", segundo ela. Ambas visitaram médico do frigorífico onde trabalharam diversas vezes, e em todas foram recebidas com um comprimido de diclofenado, um antiinflamatório. O apelido do médico entre os funcionários da empresa? Dr. Diclofenaco. E isso não é nada engraçado. 


   Há um ex-trabalhador de um frigorífico de carne vermelha que, acostumado ao ambiente do setor, diz que, se houvesse um estudo mostrando o número de acidentes nessas fábricas, o governo saberia que se trata de uma questão importante. E o governo já sabe. O documentário se presta a mostrar as condições de trabalho nessas fábricas (em meio a carcaças de frango, carne e sangue de boi), a escutar o depoimento de pessoas que passaram por algum tipo de problema – físico ou psicológico – por conta dessas condições e a dar voz a promotores, fiscais do trabalho e demais autoridades que convivem com as mazelas de dentro dos frigoríficos. ÉPOCA conversou com Carlos Juliano Barros, um dos diretores, sobre o filme. Confira abaixo. 

   ÉPOCA – No documentário aparecem vários fiscais e pessoas ligadas ao Ministério do Trabalho e ao Ministério Público. Isso mostra que o governo sabe da quantidade de acidentes de trabalho no setor. Como o governo lida com essa situação? 

Carlos Juliano Barros – Essa questão do trabalho nos frigoríficos revela uma posição completamente esquizofrênica por parte do governo brasileiro. De um lado, o governo estimula a atividade dos frigoríficos, investindo nela, principalmente via BNDES, que faz parte do capital acionário de vários frigoríficos do Brasil. Ou seja, o BNDES é sócio de vários frigoríficos do Brasil e está interessado que essas empresas cresçam, ganhem mercado. Porque ele é um banco de fomento, e seu interesse é que a economia cresça. O governo também acaba bancando os custos que essas empresas geram para a sociedade através do INSS. Ou seja, todo mundo que pede um auxílio doença ou uma aposentadoria por invalidez acaba comendo uma parcela dos recursos que a sociedade inteira paga. É a famosa "privatização dos lucros e socialização dos prejuízos", como (o economista) Celso Furtado já falava.



Fonte: Revista Época, veja a entrevista completa AQUI
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